Estudo Dirigido - JESUS E AS EPÍSTOLAS DE JOÃO
Estudo VII - VIVENDO COMO FILHOS DE DEUS
“Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos filhos de Deus. Por essa razão, o mundo não nos conhece, porquanto não O conheceu a Ele mesmo” (1Jo 3:1).
Um novo converso procurou o pastor e disse: “Por mais que eu ore, por mais que eu tente, simplesmente não posso sentir que sou fiel ao meu Senhor. Acho que estou perdendo a salvação.” O pastor respondeu: “Você está vendo este cachorro aqui? È o meu cachorro. Ele é treinado para viver em casa; ele nunca faz sujeira; é obediente; é um encanto para mim. Lá na cozinha está meu filho, um bebê. Ele faz muita sujeira, joga a comida no chão, suja as roupas, é uma confusão total. Mas quem vai herdar minha herança? Não é meu cachorro; meu filho é meu herdeiro. Você é herdeiro de Jesus Cristo porque foi por você que Ele morreu.” Somos filhos de Deus e herdeiros de Seu reino, não por causa de nossa perfeição.
Filhos de Deus
Que promessa maravilhosa nos é oferecida? 1Jo 3:1. O que essa promessa inclui? Veja também Jo 1:12; 1Jo 2:29; 1Jo 3:9.
1 João 3:1 aponta para um nascimento espiritual; João 1:12 destaca a fé em Cristo pela qual nos tornamos filhos de Deus. 1 João 3:1 afirma que os crentes já são filhos de Deus. O Senhor tomou a iniciativa de fazer isso por nós. O novo nascimento é obra Sua, não nossa. Não podemos promover nem nosso nascimento nem nossa adoção como filhos de Deus. Também não precisamos nos preocupar com nosso estado como filhos de Deus, desde que mantenhamos um relacionamento sadio com Ele. Esse relacionamento é descrito como o que acontece entre pai e filho; assim, muito íntimo. O pai ideal toma cuidado de nós, nos ama, e daria a vida por nós.
Pare e pense nas implicações dessa promessa de que somos filhos de Deus. Pelas últimas contas, existem mais de quatrocentos bilhões de galáxias visíveis no Universo, cada uma contendo bilhões de estrelas. Quem sabe quantos planetas existem entre essas estrelas e quantos são habitados com vida inteligente? Devido ao tamanho do Universo, em contraste com nosso planeta, para não dizer cada um de nós individualmente, como podemos deixar de nos surpreender com o fato de que o Deus que criou tudo isso nos ama e nos fez Seus filhos? Que perspectiva maravilhosa esse fato deve nos dar sobre o significado de nossa vida! Que esperança, que certeza, que confiança devemos ter para o futuro, não obstante todas as circunstâncias difíceis pelas quais passamos hoje! Deus, o Criador de tudo o que existe, nos ama, cuida de nós e nos chama Seus filhos! A New International Version traduz 1 João 3:1 livremente mas capta bem seu significado quando diz que o Pai “esbanjou” Seu grande amor sobre nós.
Resultados e responsabilidades (1Jo 3:2, 3)
1 João 3:1 refere-se aos resultados dessa relação Pai/filho, inclusive as responsabilidades dessa relação. Como consequência de sua relação com Deus, os crentes vivem de maneira pura, não sob o domínio do pecado (v. 3-10). Porém, primeiramente, é destacado que nós O veremos e seremos semelhantes a Ele.
Visto que sabemos qual é nossa presente condição como filhos de Deus, também sabemos que o futuro será ainda mais fantástico, embora ainda não possamos entendê-lo completamente. O fato de que veremos o Senhor e seremos semelhantes a Ele deve nos encher de alegria e confiança e banir todo temor e toda apreensão.
Satanás quis ser semelhante a Deus em poder e pode ter almejado a adoração de todos os seres criados. Porém, parece que ele não estava interessado em ser semelhante a Deus em caráter. Seu desejo de ser semelhante a Deus em poder não aprofundou sua relação com Deus, mas, ao contrário, a interrompeu e arruinou.
Embora os cristãos devam ser semelhantes a Deus, eles não desejam tomar o lugar de Deus. Desejam ser semelhantes a Ele em amor aos outros, em serviço abnegado, em pureza de pensamento e justiça de ação. Respeitam a diferença básica entre o Criador e as criaturas e não pretendem contrariá-la. Para eles, o mais importante é o amor, não o poder. Como Jesus mostrou, ser semelhante a Deus é entregar-se total e abnegadamente pelo bem dos outros. Jesus veio para nos mostrar como é o Pai. “Disse-lhe Jesus: Filipe, há tanto tempo estou convosco, e não Me tens conhecido? Quem Me vê a Mim vê o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?” (Jo 14:9).
Definição de pecado
Os falsos ensinos que João confrontou nessas epístolas podem ter destacado a bênção presente da salvação mas podem ter ignorado a importância da pureza de vida. Os falsos mestres podem não ter se preocupado com o problema do pecado nem com suas consequências. Então, João enfatiza que o futuro depende do tipo de vida que temos agora. Isso não tem nada que ver com justiça pelas obras. Somos salvos unicamente pela graça, mas nossa vida deve refletir que somos salvos. Então, João, depois de ter conclamado os cristãos a purificar-se, continua expondo o que significa isso.
Na Bíblia, pecado é descrito como erro de alvo, falsidade, violação deliberada do padrão divino de verdade, revolta, maldade, desobediência, transgressão, ilegalidade, iniquidade e injustiça.
Em 1 João 3:4 pecado é definido como “transgressão da lei”. Mais tarde, em 1João 3:11-20, João narra a história de Caim, que assassinou seu irmão, exemplo claro de “ilegalidade”. Então, nos versos 22 e 24 do mesmo capítulo, ele se refere aos mandamentos e à necessidade de guardá-los.
Além das implicações legais do termo, iniquidade nos lembra o “homem da iniquidade” em 2 Tessalonicenses 2:3, o anticristo por excelência e clímax de sua atividade justamente antes da segunda vinda. Essa iniquidade é exibida pelos anticristos em 1 João, rebelando-se notoriamente contra Deus e se alinhando a Satanás. Os membros da igreja são advertidos indiretamente em 1João 3:4 a renunciar a essa atitude e a todo pecado. Uma das grandes ironias do mundo cristão de hoje é que muitos dos mesmos pregadores que denunciam o pecado continuam a afirmar que a lei de Deus foi abolida porque agora estamos sob a graça. Que distorção horrível do que é a graça!
A manifestação de Jesus
Em Sua primeira vinda, Jesus, veio em carne humana. Veio para solucionar o problema do pecado e para destruir as obras do diabo. Nesse caso, os crentes não podem fazer coisa nenhuma com o pecado ou o originador do pecado, o diabo. Quando nos associamos ao pecado, associamo-nos com Satanás e rejeitamos Jesus.
1 João 3:5 não diz diretamente como Jesus tirou os pecados. Porém, o contexto de 1 João e do Evangelho de João deixa claro que Jesus fez isso morrendo na cruz. Enquanto o livro de Hebreus afirma claramente que Jesus tirou o pecado mediante Seu autossacrifício, o Apocalipse ensina que Jesus nos livrou dos pecados mediante Seu sangue.
A primeira parte de 1 João 3:5 aponta indiretamente para a cruz. A segunda parte destaca a absoluta ausência de pecado em Jesus, o que era necessário a fim de que Sua morte na cruz nos salvasse.
Os anticristos de 1 João podem não ter compreendido completamente o verdadeiro valor da cruz e a morte substituinte em nosso lugar. Que tolice, pois a morte de Cristo em nosso favor, na qual Ele sofreu a penalidade por todos os nossos pecados, forma o fundamento do plano de salvação! A morte de Cristo foi o único meio possível para salvar a humanidade e trazer-lhe a promessa da vida eterna. Perder isso é perder todo o sentido do evangelho.
Nenhum pecado!
1 João 3:6, 9 contém declarações fortes e desconcertantes, afirmando que ninguém que vive em Jesus e ninguém que nasce de Deus vive pecando. Isso parece muito absoluto. Os cristãos têm tido muita dificuldade com essas declarações e procuram encontrar explicações. Afinal, que cristão verdadeiro não teve que enfrentar a realidade do pecado em sua vida?
O que podemos entender em todos os casos é que certamente o apóstolo João não se contradiz. No capítulo 1, ele diz que aqueles que afirmam estar sem pecado enganam a si mesmos. No capítulo 2, ele aponta para nosso alvo, que é não pecar, mas acrescenta que se pecarmos, temos um advogado diante do Pai, Jesus Cristo. Nossa passagem atual precisa ser entendida à luz da discussão anterior sobre o assunto do pecado: Os cristãos se afastam do pecado, mas, se pecarem, confessam o mal e aceitam o perdão divino.
Os comentaristas apresentam diversas tentativas de resolver esses versos difíceis. Duas delas serão mencionadas:
1. João retrata o ideal em 1 João 3:6, 8, 9 – que ele também menciona em 1 João 2:1. A diferença é que em João 3 ele não acrescenta nenhum qualificativo. Uma razão pode ser que João quer que seus ouvintes e leitores tenham uma certeza sobre a questão do pecado. Ele não pode ser considerado levianamente. Os seguidores de Cristo não podem brincar com o pecado.
2. Os verbos pecar e praticar (pecado) estão no tempo presente, que costuma apontar para ações contínuas. O significado seria que os discípulos de Cristo não podem pecar continuamente. Podem cair em pecado aqui e acolá, mas dele se afastam e não vivem em pecado. Não são dominados pelo pecado. A Nova Versão Internacional segue esse raciocínio ao traduzir os verbos como “praticar o pecado”.
Não importa a interpretação aceita, o capítulo 3 deve ser entendido à luz dos capítulos 1 e 2. Embora o pecado seja real, os cristãos não têm escolha a não ser eliminá-lo de sua vida, não importando o custo.
”Ninguém se engane com a crença de que pode se tornar santo enquanto voluntariamente transgride um dos mandamentos de Deus. Cometer pecado conhecido faz silenciar a voz testemunhadora do Espírito e separa de Deus o crente. ‘Pecado é o quebrantamento da lei.’ E ‘qualquer que peca [transgride a lei] não O viu nem O conheceu’. (1Jo 3:6). Conquanto João em suas epístolas trate amplamente do amor, não hesita, todavia, em revelar o verdadeiro caráter dessa classe de pessoas que pretende ser santificada ao mesmo tempo em que vive a transgredir a lei de Deus. ... E a alegação de estarem sem pecado é em si mesma evidência de que aquele que a alimenta longe está de ser santo” ( O Grande Conflito, p. 472, 473).
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